Celso Tracco
A palavra “política” deriva do grego “politikós” e tem sua origem no termo “polis”, que pode ser traduzido como “comunidade” ou “agrupamento de pessoas”. Dessa forma, qualquer indivíduo que faça parte de uma comunidade e tenha interesse nos assuntos públicos dela é, por definição, um ser político. A expressão política de todos os membros de uma comunidade, seja em âmbito municipal, estadual ou nacional, deveria ser frequente. Em um sistema político democrático, essa prática é garantida por meio das eleições.
No entanto, ao examinarmos a história do Brasil com atenção, percebemos facilmente que a participação política de nossa população é limitada. Várias razões históricas podem ser listadas para explicar esse desinteresse, como imposições monárquicas e absolutistas, baixa escolaridade, concentração de poder em grupos familiares, uma elite dominante e experiência democrática limitada devido a golpes e eleições controversas.
Esses fatores ao longo do tempo contribuíram para a percepção de que o engajamento político, especialmente na esfera partidária, é negativo, associado à corrupção e a práticas inadequadas. Prevalece a ideia de que os partidos políticos agem em benefício próprio ou dos líderes, em vez de buscarem o bem-estar dos eleitores. Isso leva ao desinteresse geral em discutir política, gerando uma sensação de inutilidade e desdém pela política partidária.
No entanto, a falta de participação de todos na política, apesar das restrições sistêmicas e estruturais, é um erro sério da sociedade brasileira. Com apenas 35 anos de experiência democrática recente, muitos parecem cansados e desiludidos com a prática democrática. É possível que aguardem um líder redentor, alguém que resolva de imediato séculos de problemas estruturais. Acredito que somente por meio da livre e plural manifestação de todos os setores da sociedade poderemos aprimorar e fortalecer as instituições políticas, evitando o personalismo danoso que ainda persiste.
Uma sociedade verdadeiramente forte, segura e próspera requer uma maioria conscientemente engajada, trabalhando para o bem comum. Ainda que pareça utópico, vejo a utopia como algo difícil, porém realizável. Sem esforço contínuo, a sensação de uma classe política inepta e corrupta apenas aumentará. A manifestação política dos cidadãos, através de várias organizações da sociedade civil, demanda abnegação, mudança de hábitos, posturas e até sacrifícios. No entanto, é o melhor caminho para construir um país mais justo, igualitário e solidário para todos.