Celso Tracco

Um pequeno olhar sobre os últimos 250 anos da história humana pode nos ajudar a refletir sobre a pergunta acima. Por princípio, devemos ter uma visão ampla e desprovida de preconceitos quando analisamos as grandes transformações sociais advindas das mudanças econômicas que revolucionaram a prática laboral. 

Na primeira revolução industrial, começando pela Inglaterra e rapidamente  estendendo-se  por regiões da Europa como Norte da França, e onde hoje se constitui a Bélgica e Alemanha causou um grande transtorno no mercado de trabalho de então. A disseminação da máquina a vapor, como um bem produtivo, afetou de modo definitivo o sistema de produção de bens, devido  a implementação de fábricas com linhas de produção em massa  e o sistema  de transporte com a criação de ferrovias e a navegação com navios movidos a vapor. Evidente que todas as pessoas que tinham uma atividade econômica ligada à tração animal foram de algum modo afetadas, com a popularização das ferrovias. Igualmente toda a indústria náutica teve que se adaptar aos novos tempos. Não cabe dúvidas que centenas de milhares de pessoas perderam seus empregos. Mas igualmente quantas novas funções e novos postos de trabalho foram criados a partir da invenção da máquina a vapor? Impossível calcular. 

Fenômeno idêntico ocorreu com a popularização da eletricidade, a segunda revolução industrial, que afetou, radicalmente, a concepção de um lar, de uma moradia. Alguém hoje pode imaginar como era passar roupa com ferro a carvão, ou tomar banho com água quente? Mais uma vez toda indústria voltada para a produção de bens e serviços que não contemplavam a eletricidade, ou fecharam ou se adaptaram aos novos tempos.

Entrando agora na pergunta enunciada deste artigo, a Inteligência Artificial é decorrente da terceira revolução industrial, a computarização. A popularização do elemento digital. O computador, ou mundo digital, já faz parte de nossas vidas, ainda que não tenhamos a capacidade de entender toda sua dinâmica e possibilidades de uso e de expansão futura. Um smartphone atualmente tem maior capacidade de armazenar dados do que a sala de computadores que levou o homem à lua. O uso “indiscriminado” do computador também iria acabar com milhões de empregos, com o uso do papel, com os sistemas de arquivo físico, entre tantas outras prisões catastróficas. Claro que muita coisa mudou, claro que muitos mercados foram afetados, mas quantos empreendedores surgiram no mundo trabalhando via home office ou apenas com base em aplicativos de celular? 

O mundo econômico está em mudanças constantes e com uma rapidez jamais vista, e isso sim nos assusta, porque é do ser humano buscar sua “ilha de conforto”. Entre outras tantas reflexões, recomendo uma: os postos de emprego podem ser extintos, então pensar que podemos trabalhar por toda uma vida em uma mesma empresa, pode ser uma quimera. Mas  se eu me adaptar aos novos tempos sempre terei novas oportunidades de trabalho, ainda que não seja um emprego formal. 

A sociedade civil e quem nos governa devem estar preparados para esses novos tempos, que realmente trazem enormes desafios. Uma das previsões deste “mundo novo” é que viveremos mais, expectativa de vida chegará a 100 anos brevemente em alguns países mais desenvolvidos, e trabalharemos menos.